Quadra

O homem sonha acordado,
Sonhando a vida percorre
E deste sonho dourado
Só acorda quando morre

António Aleixo

Descobri este poema numa aula de filosofia, adorei, acho que se aplica tão bem ao blog que parece que tirei daqui o nome, mas a verdade é que não o conhecia até à muito pouco tempo, por isso, fica aqui!

Calma...

A casa vazia...

A chuva a cair...

A atmosfera prateada lá fora...

O calor da lareira...

Os vermelhos e laranjas das brasas...

O crepitar das chamas...

Um pouco de jazz a tocar baixinho...

Calma... está tudo tão calmo...

Apetece ficar assim, sem me mexer, sem a música acabar, sem aparecer ninguém a perguntar não-sei-o-quê... apetece-me continuar neste ambiente... 

Parece que o tempo não passa, parece que nada muda, que nada acontece... parece que todo o mundo congelou para eu poder aproveitar o momento...

A música acaba, tudo volta ao normal, mais um minuto, que se transforma em hora; mais uma hora que se transforma em dia, e em mês, e em ano, e assim por diante...

Por muito que eu ache que o mundo pára para mim, não pára para ninguém, continua a rodar independentemente da vontade dos homens, seres insignificantes perante a perfeição e grandeza do universo...

Pessoas...

Sim, porque há pessoas que dizem quem sim sem saber com o que concordam, porque há pessoas que dizem que não só porque alguém disse, porque há pessoas que dizem "talvez" para não se chatearem com ninguém, porque há pessoas que não dizem nada com medo de dizer errado.

Sim, há pessoas, há destas pessoas! Eu sei que elas existem, estão em todo o lado, espreitam por detrás das portas e janelas, passam por mim na rua, perseguem-me!

Sim, eu sei que existem, só não sei porquê... porquê? Porque é que é tão difícil dizer "EU acredito nisto", "EU tenho esta ideia e defendo-a" em vez de dizer "A não-sei-quantas diz que é assim (e como eu não tenho opinião própria também digo, o que é que eu estou a dizer mesmo?)".

Irrita-me! Irrita-me solenemente!

Só depois de me irritar é que penso "coitados", depois re-penso: ainda bem, menos problemas para mim! Como seria se toda a gente pensasse e dissesse aquilo em que pensa?

Anarquia, confusão total, terror, balbúrdia!

Assim, desde que tenha consciência da pessoa com quem estou não há problema, não falo de concertos para piano de Beethoven com alguém que não percebe nada de música clássica, tal como não falo de sexo com a minha prima de 3 anos!

Não peço opinião a quem não ma vai dar, tal como não espero que um grande amigo fique calado quando não está de acordo, e assim, tudo está bem, porque ainda há pessoas com quem vale a pena estar!

Vou

Vou mudar o desconhecido, vou mudar o que não conheço, vou mudar-me a mim e ao mundo, vou mudar-te a ti. Não sei o quê nem o porquê, mas vou mudar.

Vou fazer, vou fazer a diferença. Vou saltar, correr, pular. Vou rir e chorar. Vou. Vou sozinha, vou contigo, vou com quem não conheço e com quem vou conhecer. Eu? Eu vou.

Já dizia o outro (exactamente aquele em que estás a pensar e de quem não me lembro do nome): nada se perde, nada se ganha, tudo se transforma - tinha e tem razão, nada se cria, nada se inventa, tudo se transforma, o que é a criatividade se não a mudança, a transformação do que somos e do que conhecemos, do mundo em que vivemos, do que sonhamos (acordados ou a dormir), do que ouvimos, dos erros que cometemos, do que sentimos, do que cheiramos, do que pensamos, e de inúmeras outras coisas que não me vêm à cabeça neste preciso momento.

Podes dizer "Eu cá não sou criativo, não tenho imaginação", é mentira, é um erro, um erro gravíssimo! A criatividade não se possui, a imaginação não é de ninguém, ela anda por aí, flutua à espera de alguém que esteja suficientemente aberto para a encontrar, de alguém que esqueça esse medo de "saltar fora" do que conhece, do que vê, do que toma como real...

Nunca mais quero ouvir "Eu não sou capaz", ou melhor, nunca mais quero dize-lo, pensa-lo até! Eu sou, tu és, somos todos capazes de fazer, de mudar, de arriscar e criar. Ficou mal? E depois? Depois nada, depois tenta-se outra coisa, depois pinta-se de branco e faz-se outra vez, depois muda-se a página e continua-se a escrever...

Deus escreve direito por linhas tortas; não acredito em Deus, mas quer acredite ou não, não sou Deus nem quero ser, por isso escrevo torto, torto em linhas que não conheço, no final vou olhar para o quadro que escrevi e ver que a minha vida deu uma obra de arte, tantas palavras interligadas, tantas formas feitas de linhas que na altura não conseguia ver, um borrão aqui e ali... Que quadro dará a minha vida? Adorava saber...

Ps: pela 1ª vez, uma foto tirada por mim...